domingo, 21 de outubro de 2012

O Brasil e o mundo


Revista contemporânea essa PIB... Discute questões de um Brasil de hoje, que vai para o mundo, que enfrenta os desafios de ir pro mundo, que precisa aprender a jogar o jogo da internacionalização da economia. Gostei!
Internacionalização e inovação andam de mãos dadas. Nos dois casos, necessitamos desenvolver competências de negócios. Nos dois casos, temos oportunidades como nunca tivemos. Para as duas situações, trata-se de gerar mais valor. No encontro das duas lógicas, fica a ideia de que tão maior será a capacidade de gerar e apropriar valor no Brasil se as empresas brasileiras conseguirem fazer seus (nossos) ativos de conhecimento no mundo e não apenas no mercado interno. Por outro lado, se não fizerem isso, terão menos escala e resultados mais tímidos que as grandes corporações transnacionais, que operam em vários mercados. Se isso acontecer, tornar-se-ão boas presas para aquisições de concorrentes de outros países, com mais escala, maior rentabilidade e mais dinheiro em caixa!
Boas matérias na Revista: entrevista do Presidente da Finep (estamos trabalhando na ABDI para montar um projeto conjunto), ranking das transnacionais brasileiras e calçados brasileiros no mundo.
No final de tudo, fica a pergunta: o que aprendemos até agora e como podemos acelerar o processo de internacionalização de uma forma positiva para o Brasil (que gere mais valor no Brasil, para os brasileiros, e não somente para quem está fora)?
Alguém tem a resposta?

Gente é um bicho complexo


Ah.... como é!
Já que escrevi sobre o perigo das simplificações em outro post, atrevo-me aqui a puxar a ideia a partir de uma leitura simples (o livro ao lado), com ideias simplificadas, mas não simplistas!
Li um pedaço e cheguei à conclusão de que tenho fortes traços neuróticos! Mais do que isso, acho que todas as pessoas que conheço também! Atenção: você que está lendo isto pode ser um deles! Confirmado: você é um neurótico!
Brincadeiras e neuroses à parte, gente é mesmo um bicho complexo. E fascinante!
Vale viver!

As partes e o todo


A Anprotec foi criada em 1987, em um tempo quando o Brasil de hoje estava além do horizonte.  Àquela época, o País não tinha incubadoras tecnológicas (em 1988 já haviam duas), vivíamos uma economia fechada (e instável) e o modelo das aceleradoras de empresas estava longe de aparecer.
Na verdade, pouca gente sabia o que era uma incubadora tecnológia. He, he, he... escrevendo este post até lembrei de um caso curioso e divertido: o hoje presidente do BNDES, LucianoCoutinho, apresentava um programa na TV Cultura chamado "BrasilPensa"; excelente programa (TV inteligente), diga-se passagem, tinha um formato inovador e os temas eram relevantes para o Brasil. Em uma das suas edições, no final dos anos 80 ou início dos 90, o assunto em debate era "incubadoras tecnológicas". O que aconteceu? Inicia o Programa, Coutinho introduz o assunto, apresenta os convidados, contextualiza a questão e chama uma matéria externa que serviria como teaser para a discussão, na qual a repórter apresentaria uma visão do que estava acontecendo no campo.... ou melhor, na granja! A matéria entra e a repórter aparece rodeada de frangos, apresentando as novidades e novas tecnologias para incubadoras, conversando com o fabricante das 'incubadoras' e o dono da granja. Fantástico! Aliás, Brasil Pensa! Pano rápido, volta Coutinho, cara de surpresa e constrangimento, pede desculpas e diz "é evidente que não era sobre isso a matéria....". Barriga total.... editor, produtores, repórter, redatores.... ninguém sabia do que estava falando!
Avançamos muito desde então! O Brasil se tornou o 1o ou 2o maior produtor mundial de proteína de frango e o nosso ecossistema de inovação é muito mais desenvolvido. Em tempo.... produção de frango tem muita tecnologia! E não é só genética. A Sadia (acho que a Perdigão também.... hoje juntas na Brasil Foods) foi uma das primeiras empresas privadas brasileiras a usar extensivamente Pesquisa Operacional para planejar e programar as suas operações, do ovo à mesa, com tecnologia desenvolvida no Brasil. Trabalhar em projetos lá era o sonho de alguém como eu que fazia mestrado e trabalhava com PO. Depois, nos tempos de consultoria, a empresa da qual fui sócio desenvolveu modelos e sistemas para empresas do setor, com Aurora e Seara, dentre outras.
Mas este post não é sobre ovos otimizados. É sobre o nosso sistema de inovação sub-ótimo!
Temos hoje cerca de 400 incubadoras e 200 núcleos de inovação tecnológica (NITs) em Pindorama. Existe mais de uma dezena de aceleradoras de empresas em operação e floresce o movinento de startups! Está tudo caminhando às mil maravilhas então, não? Não é bem assim!
De forma explícita ou subliminar esta Locus joga luz nos em algumas das contradições e desafios que temos para continuar a construção do ecossistema de inovação brasileiro. Destaco dois pontos: (i) uma institucionalidade que não é totalmente pertinente ao mundo do Século XXI e (ii) a limitada disponibilidade na sociedade de competências tecnológicas e, em especial, de negócios.
Temos quase 200 NITs no Brasil, que vem a ser a versão brasileira dos americanos Tech Transfer Offices, ou seja os escritórios que instituições de pesquisa devem ter para poder comercializar propriedade intelectual (o resultado de pesquisas tecnológicas) com empresas. A criação dos NITs foi determinada pela Lei de Inovação, promulgada em 2004 e regulamentada em 2005, a qual foi inspirada na americana Bay-Dohle Act, de 1981. Ou seja, somente 24 anos depois dos EUA criamos uma parte (ressalto: apenas uma parte) da institucionalidade necessária para que universidades possam desenvolver conhecimento e efetivamente transformá-lo em tecnologia aplicada na indústria. Temos, portanto, todas as dificuldades (e algumas das vantagens) de 'chegar depois'. É óbvio que é necessário tempo para que se forme capacidade técnica no País para operar os NITs, mas precisamos ter pressa e criar instrumentos e incentivos para que isso aconteça. Olhemos um pouco a nossa realidade para pensar a questão.
As principais instituições de pesquisa brasileiras são públicas, incluindo-se aí asuniversidades federais e as estaduais. Os docentes e funcionários dessas organizações são servidores públicos. Se os NITs são novos, é evidente que existem poucos profissionais no País com formação e experiência em comercialização de tecnologia. Como fazer para suprir essa necessidade (em particular das instituições de ciência e tecnologia públicas - ICTs)? Existem três soluções possíveis conforme a institucionalidade brasileira:
1. Contratar novos servidores públicos. Neste caso, não se pode exigir experiência mínima maior que 6 meses (é isso mesmo.... a legislação vigente estabelece que não se pode exigir mais que 6 meses de experiência) e a seleção deve ser feita via concurso público, com limitadíssima capacidade de identificar os profissionais que realmente 'sabem fazer o trabalho' e separá-los daqueles que apenas estudaram para o concurso;
2. Contratar bolsistas. Neste caso, os contratos são 'precários', não dão direito a benefícios trabalhistas, tem curto prazo e a remuneração não é das melhores. É difícil imaginar que alguém queira passar a sua vida como bolsista! Logo, para as ICTs, o suprimento de RHs/competências é instável, as relações não se configuram como relações de trabalho voltadas para resultados e há pouco (ou nenhum incentivo) para se investir em formação dos profissionais;
3. Contratar profissionais no mercado através das fundações das ICTs. Neste caso, a contratação pode ser realizada no mercado, mas existem limites jurídicos para que profissionais contratacos respondam pela ICT junto ao setor privado. Além disso, há o sempre presente risco dos órgãos de controle vetarem ou glosarem atos administrativos e, mesmo, proibirem a contratação de profissionais no mercado para operar os NITs ou a relação da ICT com a Fundação. Falando claramente: as fundações são um caminho alternativo criado para que as universidades possam se relacionar com o mercado, é uma solucão para dar conta de situações que a nossa institucionalidade do século XX (XIX?) não permite.
Nenhum desses modelos é adequado. Ou não funcionam bem, ou geram sobrecustos ou servem para manter o déficit de competências nas ICTs públicas.
Para que ICTs públicas e empresas se relacionem abertamente e de forma produtiva, é necessário que possa ocorrer o livre fluxo de profissionais entre esses dois tipos de organizações. Se queremos que universidade e empresa interajam (e esse é o espírito da Lei de Inovação), as ICTS públicas, e as universidades em particular, deveriam poder contratar livremente profissionais no mercado, definir seus salários, a natureza das relações de trabalho e os padrões de desempenho. Se isso não ocorrer, o mundo empresarial continuará a avançar mais rápido que a estrutura de ICTs públicas, e há o risco de se aumentar a distância entre os mundos.
Hoje, somente as ICTs privadas conseguem ter essa liberdade de contratação. Com o passar do tempo, mantida a institucionalidade atual, poderão superar as públicas - pessoalmente acho que essa competição será positiva para estimular uma mudança institucional.
A mudança institucional fundamental diz respeito à autonomia universitária e ao regimento do funcionalismo público. Esta edição da Locus traz um debate a respeito, muito válido, foca em questões internas das universidades, cultura (o que é isso? eita termo impreciso),  estabilidade do financiamento dos NITs e déficit de RHs, mas que esquece de tratar a questão das 'regras do jogo'. Deveria fazê-lo, sob pena de nunca enfrentarmos as questões de fundo que travam a inovação em nosso País. Disponibilidade de competências e institucionalidade são temas conexos!
A mesma edição da Revista contém matérias sobre as aceleradoras de empresas e incubadoras corporativas. São dois tipos de organizações que florescem no Brasil, felizmente.
O surgimento desses novos tipos de organizações ocorre em contraste com a base já estabelecida de incubadoras tecnológicas existentes no Brasil. As aceleradoras estão diretamente conectadas a um movimento de startups que emerge no Brasil (ainda, majoritariamente, de negócios internet) e é umbilicalmente ligado ao mercado, a circuitos de negócios internacionais dinâmicos e competitivos e a redes de profissionais com experiência com negócios tecnológicos. As incubadoras tecnológicas não! Estas últimas surgiram, cresceram e se multiplicaram no ambiente 'protegido' (sem o contato e a competição no mercado) das universidades e ICTs públicas e do mundo institucional brasileiro.
Lembremos que o locus da inovação é a firma e o seu critério de verdade é o desempenho no mercado, não o seu brilhantismo técnico, os humores dos burocratas de Brasília (deste que aqui escreve, por exemplo) ou a simpatia de apoiadores políticos. Logo, contato e preocupação com o mercado são relevantes desde o início - é claro, não de forma desenfreada
Empreender no setor público é um enorme desafio. Em muitos casos, maior do que no mundo privado, pois implica em lidar com uma institucionalidade que precisa ser transformada e correr riscos muitas vezes desconhecidos, inclusive pessoais. Assim, faça-se justiça: a tarefa da construção da constelação de incubadoras tecnológicas e parques tecnológicos que hoje temos no País é merecedora de apluasos efusivos. Avançamos muito graças ao trabalho de alguns visionários e empreendedores públicos de alto gabarito, em geral reunidos em torno da Anprotec. O Brasil tem resultados a mostrar: milhares de empresas e empregos criados em incubadoras e milhōes de Reais (e cruzados, cruzados novos, cruzeiros....) em impostos recolhidos.
Também feliz é o País que hoje vê o surgimento de inúmeras startups digitais e aceleradoras, com esforço e investimento privado. Sempre almejamos isso, certo? Certo! Mas esse modelo também não resolve o 'problema da inovação' no Brasil.
É preciso conectar os mundos das incubadoras e das aceleradoras! Fazem (ou deveriam fazer) parte de um mesmo ecossistema. É preciso conectar ICTs públicas e mercado!
A matéria da Locus apresenta um quadro comparativo entre aceleradoras e incubadoras que não me agrada, pois acredito que passa uma ideia distorcida do quem vem a ser cada coisa. Na verdade, retrata como são os modelos no Brasil, mas de forma nenhuma como deveriam ser ou são nos países mais inovadores.
Diferentemente do que diz a matéria, incubadoras deveriam ter mentores, aceleradoras deveriam yambém contar com financiamento público (aliás, essa é uma das ações do Programa TI Maior, lançado recentemente pelo MCT), as empresas incubadas deveriam ter mais contato com mercado e encurtar o período de incubação, há espaço para incubadoras privadas (vide matéria na mesma edição da revista).... Novamente, é preciso conectar os mundos!
Essa conexão novamente pressupõe o livre fluxo de pessoas entre os diferentes domínios (público e privado) - e, portanto, uma institucionalidade que permita isso, e passa pela construção de novas formas de diálogo e interação público-privada.
As partes do ecossistema avançam e cada vez temos mais recursos disponíveis para inovação no Brasil. É chegada a hora de aprofundar mudanças institucionais que nos permitam construir um ecossistema de inovação contemporâneo com os desafios que enfrentamos e que consiga conectar sistemicamente as 'peças do Lego' que já estão aí.
Vale pensar a respeito e ler a Locus, pois muitos dos elementos, limites, questões, oportunidades, ideias, soluções estão lá!

Menina


Havia uma menina,
Lá no Goiás,
Coralina,
Chama-se essa ás,

Contava em versos,
Histórias de quando pequenina,
Terrível, doce e genial,
Essa menina,

Versos que trazem ternura,
Que fazem a todos recordar,
De histórias infantis singelas e talvez sem formosura,
Mas cheias de sabor e que vamos sempre guardar!