quarta-feira, 30 de julho de 2014

Alemanha 7 x 1 Brasil

Foi-se a Copa do Mundo… terminou! Foi divertida, não acharam? Mas ficamos com o gosto amargo da goleada imposta pelos teutônicos. 
Não acompanho muito futebol (nenhum esporte, aliás), só em momento particulares, como o quando o Grêmio está nas fases finais da Libertadores e Copa do Brasil tem chances de ganhar o Campeonato Brasileiro. Você já percebeu, né? Faz tempo mesmo que não acompanho nada! Apesar disso, acho fantásticas as histórias sobre como um grupo de pessoas se supera ou simplesmente ‘desmorona’ e perde totalmente o rumo (usando um palavreado em voga há poucas semanas: “tem uma pane”) em um evento esportivo. Foi o que aconteceu com o time brasileiro no fatídico 8 de julho.
Esse acontecimento provavelmente irá render muito. Muitos estudos, livros, filmes, entrevistas, contos, teses de mestrado e doutorado, sonhos, delírios, análises aprofundadas e rasteiras, projetos, debates, patrocínios, dinheiro... Interesso-me pela psicologia coletiva, os aspectos táticos futebolísticos deixo para quem entende (deve existir alguém...), pois nada sei. Mas não só os aspectos psicológicos e táticos explicam o ocorrido.
Na Alemanha, a polícia mata 6 pessoas a cada ano. No Brasil, são 5 pessoas mortas pela polícia por dia. Este é um assunto bem mais sério que o futebol. É algo vital! Por definição.
De onde vem essa diferença? O que a explica?
Não há explicação simples. Quem buscar ou professar uma já começará perdendo o jogo. Misturam-se questões como ambiente social, instituições, formação e qualificação dos profissionais de segurança, condições materiais, regramento do funcionamento (compras, contratações...) do setor público, política e políticas, funcionamento do judiciário.... e por aí vai; é uma longa catilinária. Tudo está misturado, conectado, trata-se de um sistema complexo. Esse é o ponto chave do livro do Mariano Beltrame: não há solução mágica, não existe bala de prata, não existem salvadores da pátria, não há ‘a resposta’. Ponto! Bingo!
A polícia brasileira é ruim, muito ruim. Mas está melhorando! Existem bons e maus policiais. Existem unidades profissionais (poucas) e amadoras (muitas). Aliás... esse é um tema central: amadorismo. Essa é uma questão de fundo para a polícia, o futebol, o funcionamento do governo, a produtividade das empresas... O jogo Brasil versus Alemanha revela muito sobre como se organizam nossa sociedade e nossas instituições, como gerimos as nossas organizações.
Somos amadores porque nos falta método! Falta-nos método porque nos falta conhecimento! Falta-nos conhecimento porque faltam visão de mundo, referenciais internacionais e recursos! E tudo isso falta porque vontade, coragem, poder e conhecimento raramente andam juntos... e aí o sistema se torna auto recursivo.
A mudança não vem por mágica. Ocorre por partes, muitas vezes em pequenas doses. Exige liderança esclarecida (com conhecimento) e determinada, honestidade e humildade – porque errar e aprender é a regra do jogo, em qualquer coisa nova que se faz. Não existem soluções mágicas!
Não existem soluções mágicas para o futebol. Não é o treinados Fulano ou o dirigente Beltrano que vai salvar o jogo. No campo da segurança é tudo ainda mais complexo, bem mais.
Não sou um especialista em segurança. Também não me sinto capaz de avaliar as UPPs, nem quero fazê-lo ou vejo qualquer sentido nisso. Aliás, as UPPs são apenas um instrumento, um experimento, não um modelo de gestão da segurança, jamais “a solução”. Mas fico feliz em saber que há esperança, que existe gente lúcida, com uma visão orientada para um processo de mudança de longo prazo, ciente da complexidade da questão, da necessidade de se realizar dificílimas e enormes mudanças institucionais (reformar o judiciário, unificar polícias civil e militar...). Eu já achava que o Beltrame era um sujeito corajoso, pelo que vejo na mídia. 
Bem... e o que tudo isso tem a ver com Alemanha e o vexame da seleção brasileira (alguém discorda que se deva grafar com letras minúsculas o nome desse timeco)? O que mudou a história pessoal e profissional do Mariano Beltrame foi eu engajamento no primeiro grupo na Polícia Federal que começou a trabalhar com investigações estruturadas de longo prazo (as chamadas ‘operações’), com método e inteligência. Esse grupo rompeu com o amadorismo. De onde veio a ideia ou aprenderam a fazer isso? Em um treinamento sobre investigações policiais realizado na Alemanha!
Quer conhecer as estatísticas policiais da terra do Manuel NeuerVeja aqui!

Brasil urgente

A disputa do Século XXI é a disputa pelo conhecimento, disse certa vez o ‘Pepe Mujica’, em seu discurso de posse como presidente do Senado do Uruguay. Já escrevi isso em algum dos posts deste blog. Torno-me repetitivo. Preciso ler e estudar coisas novas!
Só os países que construírem e controlarem ativos de conhecimento relevantes terão um lugar ao sol no futuro. Os demais, mesmo que avancem e cresçam economicamente, jamais poderão oferecer as mesmas condições de vida aos seus habitantes que os líderes em conhecimento. Ah... não há problema se os líderes estiverem localizados muito ao norte, a 'renda de monopólio' que seus ativos de conhecimento lhes proporcionará (já proporciona) permitirá que venham passar longas férias (como já fazem) por aqui, nos trópicos!
O caminho da sofisticação econômica passa pela formação e manutenção de um contingente de pessoas qualificadas e de alto desempenho. Até hoje, a educação universitária era o (quase) único caminho para que isso fosse possível. Não será mais assim!
Estudei sempre em escolas públicas, em todos os níveis de formação pessoal. Na cerimônia de graduação em Engenharia da minha turma na UFRGS, há muitos anos, fiz questão de valorizar o caráter público e gratuito das universidades federais – estudei em uma delas. Hoje, acredito que o modelo dessas organizações não tem futuro. Ou a universidade pública brasileira se reinventa ou perderá totalmente a sua relevância; talvez morra.
O mundo sabe que educação é chave. Sempre soube. Os que estão à frente sempre apostaram nisso e seu sucesso se deve, em muito (muito, muito mesmo...), ao capital humano. Você está careca de ler a respeito na mídia, de saber. Já escrevi aqui um, dois, três, quatro posts a respeito. Muita gente infinitamente mais relevante já escreveu inúmeras e melhores coisas a respeito. O que mudou então?
Temos cada vez mais pessoas que cursaram e cursam educação superior no Brasil. Muitas e muitas delas com formação pra lá de duvidosa. Não é raro encontrar alguém que busca ascender socialmente e investe em um curso superior ‘picareta’, que ao término só deixa a dúvida: “por que não consigo emprego na minha área de formação”? Lamento pessoas... você foram enganados!
Ao mesmo tempo, criaram-se várias novas universidades federais no Brasil, de norte a sul. Terão elas todas a mesma qualidade? É evidente que não! Precisaremos de todas elas no futuro? Não sei dizer. É razoável existir uma carreia única para todas essas instituições? Acho que não. Elas cumprem a função que deveriam na sociedade? Compreendo que ainda estão distantes. 
É preciso compreender o que se passa, pensar e agir!
Vale você ler a matéria de capa desta edição da The Economist e pensar no que a mudança que está se processando na educação universitária quer (quererá) dizer para o Brasil. Use o que você aprendeu (espero) na escola.

As coisas que guardamos...

...seguem conosco para o resto de nossas vidas, queiramos ou não. Saibamos ou não.  Elas estão lá. 
Lembrar e chorar pode ser uma boa estratégia. Esconder não vai funcionar cara pálida (final de contas, ninguém consegue ficar bronzeado no inverno de Viena)! Recomento!
Agora acho que vou lá reler o Gaia Ciência, com outros olhos, um pouco embaçados, mas mais tranquilos.

#imaginanaindia

A hashtag #imaginanacopa foi super utilizada em posts no Facebook, Twitter, Instagram etc. antes da Copa do Mundo de 2014. Lembra? 
Entre o preto e o branco existem infinitos tons de cinza! Adoro esta frase, tomei-a emprestada de um amigo, genial intelectual - ele, não o que aqui escreve. Faltaram matizes nas análises sobre a Copa do Mundo 2014! Tudo foi muito exagerado. Sobrou pessimismo, superficialidade nas análises, preconceito, ignorância, politicagem, pancadaria da grossa, ufanismo, obtusidade e por aí vai. Foi!
É claro que o Brasil tem e teve muitos problemas, enormes mazelas. Não resolvemos elas antes da Copa. Demoraremos a resolvê-las. Reconheço, com tristeza. São os limites da nossa própria sociedade, daquilo que escolhemos e fazemos coletivamente. É uma enorme ingenuidade (ou maldade...) supor que resolveríamos esses problemas antes da Copa, nem o PSTU e o PCO teriam acreditado, mesmo que a tal ‘revolução’ já tivesse chegado.
É evidente que a Copa do Mundo 2014 teve problemas, muitas coisas não ficaram prontas, no geral obras viárias, e ocorreram erros. São evidências da falta de coordenação e capacidade técnica de órgãos de governos municipais, estaduais e federal. Como uma triste lembrança disso, temos o fato de que, nas duas sedes das semifinais, São Paulo e Belo Horizonte, ruíram obras viárias. Tragédias e amadorismo brasileiro no seu ‘melhor estilo’!
Francamente, não sei qual foi/será o impacto econômico da Copa 2014, vi algumas avaliações, exageradas para um lado ou outro, pareceram-me. Também não sei se fez sentido ou não termos 12 cidades sedes. Pelo que os números indicam, recuperar o investimento feito em infraestruturas dedicadas ao futebol (estádios e centros de treinamento) será muito, muito, muito difícil (se não impossível) em várias dessas localidades. 
Mas talvez existam outros benefícios... por exemplo: qual será o significado da Copa para Cuiabá quando analisado no futuro? Talvez tenha valido a pena levar jogos e pessoas de diferentes países para lá, talvez seja uma forma de conectar a cidade com o mundo, um modo de “colocar o bode na sala” - ou melhor “colocar  o bode no estádio”, instigar à mudança. Talvez não tenha sido nada disso. Só espero que o gramado não seja utilizado apenas pelos bodes no futuro. 
Tendo a crer que só o futuro irá dizer se, para cada cidade, a Copa foi um sucesso, um fracasso ou algo no meio do caminho. Dependerá mais do que está por vir e não do que já passou! Pense nisso quando você escolher nas próximas eleições! O que vem por aí? Quem vem por aí?
Que fique claro: acho que o evento foi um sucesso enorme, mas planejamos e executamos muito mal a sua preparação. Gastamos mais do precisaríamos gastar. Fomos pouco eficientes. É um reflexo do nosso ambiente institucional. Este é o Brasil que todos nós fazemos a cada dia. Todos nós.
Repetindo... É claro que o Brasil tem e teve muitos problemas, enormes mazelas. Não resolvemos elas antes da Copa. Demoraremos a resolvê-las. Reconheço, com tristeza.
Mas será que temos tantos problemas assim? Somos tão ruins mesmo? Para além dos fatos, falta-nos baliza, exageramos. Acho que temos uma enorme tendência a falar mal de nós mesmos sem sequer conhecer a realidade dos outros.
Esta edição da The Economist, da época da posse do novo primeiro ministro da Índia (uma edição mais recente já cobra resultados...), Narendra Modi, joga luz em alguns ‘desafios’ daquele País: 90% dos empregos são informais, a agricultura é feudal, a maior parte dos trabalhadores na indústria labuta em ‘fábricas’ sem energia elétrica, somente 3% da população paga imposto de renda, 600 milhões defecam ao ar livre...
Pense nisso na próxima vez em que ler no jornal que a Índia cresce mais do que o Brasil (para ficar claro: não tenho dúvidas de que o Brasil precisa crescer mais e mais rápido!) e que por essa razão nós vamos mal. Considere também adotar uma nova hashtag; tenho uma sugestão: #imaginanaindia!
O Brasil é um País ‘no meio do caminho’. Está atrás daqueles que oferecem boas condições de vida para a maior parte de sua população, tem sérios problemas, precisa avançar muito na sua institucionalidade, modernizar-se, conectar-se com o mundo, tornar-se mais próspero, justo e igualitário.
Mas não se deixe enganar... estamos à frente de outros, resolvemos há muito problemas que eles nem sonham em equacionar, somos referência para muitos que nos vem de fora, somos muitas vezes melhores aos olhos dos outros do que aos nossos próprios.
Entre o preto e o branco existem infinitos tons de cinza! Se temos que avançar, com velocidade (é preciso ter sentido de urgência), é fato que outros tem desafios bem maiores que os nossos. 
Vale imaginar como é na Índia!
#imaginanaindia