segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Game over

Você lê revistas de negócios? Sim? Gosta?  Eu gostava (muito) de ler Exame há algumas décadas e ainda leio várias revistas de negócios nos dias de hoje, principalmente online. Até influenciaram a minha trajetória pessoal e profissional - incentivaram a fazer uma pós-graduação mais voltada para negócios do que a graduação em Engenharia.
Sempre gostei de revistas. Fiz um lobby doméstico na década de 70 para meu pai assinar a Veja. Vejam só... comprava revistas em quadrinhos, de ciência, de história. Sempre fui curioso, viciado em informações.
Comprei esta edição da Bloomberg Businessweek em um aeroporto - onde mais existem bancas de revistas nos dias de hoje? De repente percebi que não conheço nenhuma por aqui onde moro - que não é Copacabana ou Nova Iorque. Admirável mundo digital.
Digital e tecnológico são o mundo e os negócios, cada vez mais os negócios. Veja, tecnologia é o principal assunto da edição de junho13-26 da Bloomberg Businessweek. Mas não para por aí. Entre no site agora e verá: a maior parte das matérias são sobre novas tecnologias e como estão mudando o mundo: veículos autônomos, câmeras de vigilância, laboratório de dinossauros, robôs cirúrgicos, blockchain, novas naves da NASA....
Há algum tempo, tecnologia era curiosidade, hoje é o eixo central do conteúdo das revistas de negócios. As revistas de negócios focavam em métodos de gestão, melhores práticas, líderes, receitas de bolo. Tudo isso é agora coisa resolvida ou do passado. Cada vez mais temos conhecimento sistematizado sobre como preparar pessoas, montar e gerir equipes de alto desempenho, ser eficiente em operações. A grande questão hoje é como sobreviver numa era de mudança tecnológica acelerada! O jogo mudou!
O Peter Diamandis bem colocou no Abundance: a tecnologia se digitaliza e o acesso se democratiza. Com um crescimento exponencial da tecnologia, as empresas que aí estão penarão muito para continuar existindo, muitas, a maioria, irão morrer.
Game over para muitas corporações e muita gente!
Em tempo... fui ler uma revista de negócios brasileira enquanto escrevia este post. Não há quase nada sobre novas tecnologias, mas há muita coisa sobre a política em Pindorama. Sinais de decrepitude. Game over!

domingo, 28 de agosto de 2016

Tempo

Com exceção de alguns lugares da América Espanhola - Cuzco, por exemplo - é difícil perceber deste lado do Atlântico que a história vem em camadas. Estamos no mapa, americanos do sul ao norte, há pouco tempo. É claro, muitos estavam aqui antes dos europeus aparecerem com seus espelhinhos, mas no geral (e infelizmente) não nos reconhecemos nos povos que aqui habitavam e não incluímos o registro daquela história passada na nossa própria.
Há em Roma uma igreja muito interessante, local onde três edificações distintas foram construídas, uma sobre a ruína da anterior. Lá, literalmente, vemos as camadas. Roma é uma dessas esquinas do mundo, onde gente de todos os tipos se encontrou. 
Foram os romanos, aliás, que criaram Barcelona. É outra dessas esquinas. Um lugar com uma identidade e uma língua próprias - e uma comida maravilhosa. Um lugar onde a história veio em camadas.
Leva tempo a construção de uma sociedade, de valores compartilhados e vividos, de consensos. A Catalunha da tal cidade de Barcelona ainda ambiciona a sua independência. Os que vieram (bem) depois deveriam pensar nisso. O tempo faz falta.

Lux

O Brasil vive um momento singular. Há mais destruição do que construção, mais discórdia do que diálogo, mais desperdício do que resultado, mais ódio do que empatia, mais arrogância do que sinceridade, mais mentiras do que verdades, mais confusão do que clareza, mais perdas do que ganhos, mais trevas do que luz, mais passado do que futuro.
Surpreende encontrar este livro sobre o Orçamento Participativo de Porto Alegre, que foge do Fla-Flu - no caso, melhor, foge do Gre-Nal! Quiçá seja possível fugir da violência trivial e das simplificações grosseiras. Talvez seja possível compreender que as sociedades, as cidades, os países, a cidadania, são obras em eterna construção. Talvez.
Talvez haja luz e consigamos avançar. Vale torcer. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Dallas

Nunca visitei Dallas - ainda! Mas lembro da série de TV, de muitos anos trás - acho que teve uma refilmagem recente; não? Sim, em 2012.
Pois bem...
Não há muito estive em Florença.... che bella città! Berço do Renascimento e origem de muitas coisas que conformaram o que pensamos, sentimos e gostamos hoje - pelo menos aqui na banda Ocidental do planeta.
Em grande parte, Florença e o Renascimento foram obra de uma dinastia, os Medici. Banqueiros, políticos e, por fim, nobres. Uma dinastia que não tinha só dinheiro e poder, mas que fora forjada por alguém que acreditava no poder da ideias e nos homens, na sua capacidade criativa e transformadora no mundo.
Dallas foi uma série criativa - pelo menos eu gostava de assistir - e que marcou minha infância (podia assistir?). Florença, a existência de todos nós e dos que estão por vir.

Design

Como é difícil mudar... ah.... como é difícil mudar!
Mudei de linha!
De novo...!!
Cada um de nós enfrenta dificuldades para mudar, especialmente mudar de hábitos. É um mercado enorme, que cresce: cada vez mais existem cursos, aulas, métodos, consultorias, mentorias e ferramentas para aprimoramento pessoal e gestão da mudança. Quer algo 'digital'? Há inúmeros apps, inclusive o The Fabulous, desenvolvido pelo Sami Ben Hassine.
Mudar é muito difícil, em especial na sociedade como um todo. Algumas mudam bastante (a americana?), outras pouco (a brasileira?). Mas mudanças nas sociedades não tem apenas que ver com valores. Vão além, bem além... precisam ser traduzidas em ações concretas, em formas de agir, trabalhar, alocar recursos.
Esta edição da Wired traz uma entrevista legal com Al Gore. Ele foi, quando poucos no mainstream se preocupavam, uma voz pela mudança - dos hábitos, políticas, padrões de consumo, escolhas tecnologias. Tudo para tentar mitigar ou evitar uma outra mudança: a mudança do clima.
Precisamos mudar! 
Ah... e o que isto tudo tem a ver com design?
As melhores soluções são aquelas incorporadas no design de qualquer sistema, produto, serviço, organização... ou até mesmo pessoa! Talvez educar e formar é um enorme desafio... a Revista trás um conjunto de matérias divertidas e legais sobre como hackear as crianças. Em outras palavras, como fazer o design de comportamentos e atitudes.
Pra quem tem ou não tem filhos... vale ler.

Cadê a vaca?

Onde nasci, nasce muita vaca. Boi e ovelha também. Pouca gente conhece ovelha mais pro norte; lá, onde nasci, é prato do café da manhã.
Somos mais de 7 bilhões de humanos no planeta - tudo bem... alguns nem tão humanos assim... Quer saber números exatos? Impossível. Quer uma estimativa acurada em tempo real? Veja aqui.
Essa gente toda quer comer. Precisaremos dobrar a produção de alimentos nos próximos 50 anos. Como faremos para esse pessoal todo comer? Não esqueçamos, a criação de gado é responsável por 14,5% das emissões de gases causadores do efeito estufa. No Brasil, agricultura e pecuária representam 37% das emissões
Nós, humanos, corremos o risco de ter que buscar refúgio nas montanhas quando a água subir alguns metros (já imaginaram a confusão?) em função do aquecimento global. As vacas, ovelhas, suínos e outros bichos não tem como buscar refúgio, especialmente quando chega a hora do abate
Mas há notícia alvissareira, especialmente para eles, bichos: aumentar a produção de comida não demandará que rebanhos (e abates) cresçam na mesma proporção. Em 2050, espera-se que mais de 30% da proteína animal (leia-se, carne) seja produzida a partir de processos industriais, do cultivo de proteínas - é o que diz este relatório do Governo da Irlanda. Há um número crescente de startups tentando desenvolver processos, produtos e negócios nesse domínio. Aliás.... o futuro da comida está na capa da Wired de agosto de 2016, que por enquanto só está disponível no iPad. 
Ah... tem muita vaca na Irlanda, imagino que estivessem e estejam preocupadas. Não sei se explica o relatório... que aliás é ótimo. Recomendo ler!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Não leram? Não gostam?

Fiquei muito curioso com esta edição da The Economist. Será que eles nunca ouviram falar de Ray Kurzweil e da lei dos retornos em aceleração? De forma acelerada: duvido!
Ao que tudo indica, há mais coisas entre o Intel 8080 e o Core i7 do que a minha vã filosofia linear pode supor. 

It's about data!

Muita gente escreve e fala muita coisa sem muito sentido. É muito, é demais, não consigo nem quantificar. Quando o assunto é comportamento então, os chutes e as ideais rasteiras grassam. 
Uma coisa que algumas vezes me chamou a atenção nas ciências sociais no Brasil é encontrar gente repetindo conceitos e fazendo afirmações que me parecem não ter lastro na realidade. Discursos prontos, ensaiados entre amigos. Palavras para iniciados. Ausência de pensamento crítico e diálogo fora do círculo fechado daqueles que leram as mesmas coisas e pensam como você. Muito dogma e poucos dados.
Tá certo... sou um engenheiro caído e meu modelo mental não deve escapar de uma viés positivista, ainda que velado. Não sou um cientista social, para o bem e o mal.
Uma outra coisa que sempre me chama a atenção é como as ciências sociais nos Estados Unidos são baseadas em métodos quantitativos e experimentação. É uma outra abordagem, que faz minha alma de engenheiro mais faceira - desculpe-me, mas não sei quantificar o quanto.
Originals é um livro bom de ler, feito a partir de inshights e conclusões baseadas ou inspiradas em pesquisas quantitativas. É sobre comportamento. É sobre padrões. É sobre dados.
Adam Grant é professor em Wharton e um grande comunicador. Não quer ler o livro? Tudo bem... assista o seu aclamado TED talk sobre os hábitos dos originais. É algo mais para aprendermos, engenheiros e cientistas sociais: comunicar, contar histórias, inspirar - nada de apresentações chatas em power point!

As rédeas do destino

A população africana irá dobrar nos próximos 40 anos. É muita gente. Será muita gente! Para um continente que tem quase 50% da população vivendo em extrema pobreza, os desafios são enormes.
Lembro-me da fome na Etiópia, quando eu ainda era adolescente. "We are the world, we are the children": bela canção, fez sucesso. O que mudou desde então? Tivemos boas e más notícias. Ups and downs
A África sofreu e sofre enormemente com a AIDS e outras doenças. A expectativa de vida no Continente caiu drasticamente desde meados da década de 80 mas começam a surgir resultados positivos.
Nos campo político e econômico a situação pouco evoluiu em muitos países, em outros andou para trás. Para Dambisa Moyo, não foi por falta de ajuda internacional que África ficou para trás. Foi principalmente, pelo excesso de ajuda. 
A ajuda internacional corresponde a cerca de 15% do PIB africano. 85% dos recursos fornecidos pelo Banco Mundial na África não são aplicados nas finalidades as quais se destinam. O problema é de governança, modelo de desenvolvimento, institucionalidade e, acima de tudo, mindset. Vale a discussão.
Todo processo emancipatório envolve algum tipo de empoderamento e tomada de consciência e responsabilidade pelo destino - de cada um de nós e também das sociedades e países. A síntese para o desenvolvimento não é a ajuda que cria dependência, mas a criação de estruturas locais capazes de gerar valor.
A mudança está em curso. Bob Geldof foi um dos principais organizadores das campanhas contra a fome na África nas décadas de 1980 e 1990, arrecadando milhões de dólares com shows musicais, discos, doações. Os concertos são coisas do passado e Geldof é o chairman de um fundo de private equity que investe na Etiópia. Sinais dos tempos. Bons e rentáveis sinais!

PS: antes que desavisados compatriotas passem por aqui e pensem coisas que não encontram base factual: o livro destaca o enorme sucesso de experiências de transferência condicional de renda, como brasileiro Bolsa Família. Tem dúvidas? Veja apenas um exemplo dos impactos na saúde.

Medo

Caminhava apressado em Schiphol há pouco mais de um mês e notava uma movimentação diferente, sentia um astral diferente. Nunca o aparato de segurança fora pra mim tão forte e aparente em um aeroporto europeu. Não faltam razões.
O medo é sistêmico. O medo cria barreiras e preconceitos, que fecham portas e as fronteiras, que fazem brotar o amargor e a desconfiança, que crescem com a falta de perspectivas e o fanatismo, que gera o ódio, que leva ao extremismo, que explode a razão e leva à cegueira, que põe a perder humanidade, que assim atenta à vida e esparrama cada vez mais medo.
Como é difícil aceitar o diferente, o outro. 
A Holanda é uma sociedade aberta, secular, diversa. É uma sociedade sobre a qual paira um espectro: será preciso fechar-se para proteger-se?
A mesma edição da Time Magazine Asia de 4 de abril deste ano que traz uma matéria sobre a ameaça do ISIS, inclui uma breve nota sobre Myanmar. Por lá, um grupo extremista budista (isso mesmo.. você leu certo: "um grupo extremista budista") promove o ódio a muçulmanos e realiza ataques. Não conhecia extremistas budistas? Welcome!
O medo é circular. Os refugiados da guerra na Síria buscam abrigo e a chance de uma nova vida na Europa. Mexem com o imaginário e com o bolso dos europeus. O medo cresce. As perspectivas são sombrias. Para os refugiados, a Europa, todos nós. O medo consome. O cerco se fecha. E não adianta apertar o passo.


Metamorfose

Como é difícil mudar! Somos todos presos a velhas ideias e velhos hábitos. Se não é mole na vida pessoal, imagine na vida corporativa e no mundo do beezeeness!
Schumpeter já dizia que a inovação é o motor do capitalismo, é a tal da destruição criativa. Novos produtos, processos, formas de organização etc. tornam obsoletos os antigos.
Quem não inova se trumbica, dizia o Chacrinha.... ou quase isso. Nunca isso foi tão verdadeiro. Vivemos um tempo de mudança acelerada. Quase 90% das empresas que constavam da Forbes 500 em 1955 desapareceram ou saíram da lista. Serão necessários bem menos que 60 anos para que isso aconteça com aquelas que hoje estão lá. A mudança se acelerou.
O impacto não se limitará as empresas. Cerca de 25% dos profissionais nos EUA tem cargos que não existiam há dez anos atrás. 48% dos empregos hoje existentes nos EUA tem alta probabilidade de desaparecer nos próximos 20 anos - veja uma pesquisa a respeito.
E daí? Para onde ir? Qual a direção da mudança? Como fazer para metamorfosear a sua organização?
Algumas das maiores empresas do mundo são quase virtuais (não possuem ativos e operam com ativos de propriedade de outros) - pensou no Über? Acertou! O software está engolindo o hardware. Cada vez mais gente passa a trabalhar sob demanda e não com tempo fixo. É o tempo das organizações exponenciais, dizem Salim Ismail e seus comparsas.
Este foi um dos livros de negócios mais divertidos a atrativos que já li, prendeu a minha atenção do início ao fim. Acho que vale a pena ficar exponencialmente ligado!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Onde está o dinheiro? Para onde vai?

O Vale do Silício concentra a maior parte dos investimentos em venture capital dos EUA - Sand Hill Road reúne a maior quantidade de venture capital firms por quilômetro no mundo. Ou melhor, por milha.
O volume de investimentos em venture nos EUA tem subido bastante em anos recentes e o volume investido dobrou entre 2013 e 2015. Mas como em outras áreas da economia (e da vida) é a China que muda o jogo - é o país que mais cresce em número de deals e capital comprometido. 
Quer saber quem são os principais players? Confira esta lista. Ou acredite nos dados e na representatividade de uma das associações chinesas de VC/PE - veja a lista e tire suas conclusões. 
O volume de dinheiro tem aumentado ao redor do mundo, mas os recursos são aplicados majoritariamente em software. Não necessariamente para criar os produtos e as empresas que o mundo precisa, em áreas como alimentos, saneamento, energia, habitação. A lacuna no financiamento da inovação hard é um tema recorrente. Esta edição da MIT Tech Review traz um conjunto de pequenos artigos sobre o financiamento da inovação, como parte de um caderno especial sobre o assunto. 
O dinheiro está nos EUA e, cada vez mais, na China. Vai para software - e algumas outras coisas. Mas isso não resolve os problemas que temos, especialmente um dos mais prementes deles: a mudança do clima. Com ela, a coisa poderá ficar quente de verdade... e eu não estou falando da temperatura do ar.
Precisamos acelerar as inovações em tecnologias limpas. É isso ao que se propõe a mission innovation, iniciativa lançada pelos altos mandatários (o canadense se destaca...) durante a COP21. Do lado privado, Bill Gates e cia. lançaram uma coalizão de investidores e mega empreendedores, pensada para fazer venture capital com perspectiva de longo prazo (e paciência), investindo em eventuais tecnologias limpas que venham a resultar dos investimentos governamentais em pesquisa.
Dá tempo de mudar o jogo? A chamada de capa da revista diz para não ficarmos em pânico. Mas vale colocar as barbas de molho - onde há água, certo?. Os clima muda e os conflitos afloram - a coisa fica quente mesmo. Faz-me lembrar um velho e bom filme do Spike Lee. Val assistir... no conforto do ar condicionado.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Sistema operacional

"Que país é este", perguntava a música da Legião Urbana. É o Brasil. É o Brasil que construímos a cada dia - todos nós. É o Brasil que aceitamos. É o Brasil com o qual somos complacentes.
Atingimos o nosso limite institucional, penso eu com os meus botões e as teclas do meu notebook, longe do calor de Pindorama. Com as instituições que estão aí, chegaremos onde já estamos. É pouco, muito pouco.
As instituições são o sistema operacional de uma sociedade. O nosso sistema operacional, em construção há séculos e cheio de remendos, deu GPF, a tela ficou azul... o problema é que não há como dar boot no País.
Este livro é escrito por autores que tem posição clara: são contra o governo e o partido que está no poder. Já eram contra em 2014, quando foi lançado, antes da deterioração da situação econômica e do quadro político em 2015. Sempre foram. Estando claro isso, é uma ótima provocação sobre nós mesmos. 
Aceitamos nos pautar por baixos padrões de desempenho, somos complacentes. Apaixonados por nós mesmos, esquecemos de olhar o mundo - que avança. Somos prisioneiros da aliança do atraso com o obscurantismo, forjada há 500 anos. Somos prisioneiros do passado. Somos prisioneiros do nosso modo de ver o mundo.
Sérgio Buarque de Holanda certa vez disse que "a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós [brasileiros]". Já é tempo. Ainda dá tempo? Será que é melhor deixar pra lá? Tá bom assim, né? Ou será que não? Seremos sempre complacentes?

29 anos

Escrevo este blog de forma despretenciosa - divirto-me procurando coisas diversas na web e juntando as pecinhas em linhas não muito elaboradas, ajuda-me a organizar ideias, talvez tenha até algum tipo comunicação truncada e de mão única com alguém. Tem alguém aí? 
Blogs já são obsoletos nos dias de hoje, blogs como este são coisa do passado. Dentro de 29 anos restarão apenas ruínas digitais da blogosfera. Mas o que surgirá de novidade nos próximos 29 anos? Muita coisa! Coisas que eu, você e a maioria neste planeta nem imagina. 
Muita coisa acontece em 29 anos. Você lembra de 1987? Michael Jackson lançou Bad, teve crise na bolsa, o Prozac foi lançado comercialmente - muito apropriado para quem investia em ações. Foi também o ano quando a Apple lançou o Macintosh II, o seu primeiro modelo com display colorido! Isso mesmo... existiam computadores que não era em cores antes... até mesmo sem display... e uns poucos anos antes, nem computadores existiam. Em 1987, nesta época do ano, eu passava veraneio na casa de praia de um querido amigo, no charmoso litoral gaúcho. Preparava-me para fazer vestibular.
O que acontecerá nos próximos 29 anos? Muita coisa!
Até hoje, a inteligência e a capacidade de processamento disponíveis no mundo são limitadas. Em 29 anos, prevê Ray Kurzweill, estaremos conectados, humanos e "máquinas", e teremos a disposição algoritmos e máquinas capazes de pensar, criar e fazer coisas hoje muito além do que somos capazes. A inteligência não será um limitante para a humanidade, possivelmente nem os limites da vida. Chegaremos à singularidade, transcenderemos os limites que hoje temos, emergirá uma nova realidade.
Será que tudo isso irá acontecer? Sonho? Delírio? Leia o livro e tire suas conclusões. Anote o prazo: 29 anos. Confira no futuro... ou peça para o seu avatar, robô ou exocérebro fazerem. 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Somos todos iguais... pero no mucho!

Thomas Piketty jogou (muita) lenha na fogueira com o seu "Capital no Século XXI". Economistas, cientistas sociais, políticos, burocratas, jornalistas, curiosos e pitaqueiros de plantão, ricos e pobres - ficaram todos alvoroçados.
Mais do que agitar, chamou a atenção para uma questão chave para o mundo contemporâneo: a desigualdade. À obra de Piketty, seguiram-se debates, TED talks, papers, entrevistas, conversas, artigos, panfletos, reportagens etc. E chegamos a este número da Foreign Affairs.
Existem diferentes perspectivas e argumentos relativos à desigualdade - filosóficos, morais, econômicos - à favor e contra maiores níveis de igualdade econômica. Como quase tudo na vida, a melhor resposta está em algum ponto entre os extremos da igualdade total e da extrema desigualdade. Qual é o ponto? Cada sociedade tem que encontrar a sua resposta. Mas temos pistas importantes.
Tomemos o exemplo do País que mais nitidamente simboliza o capitalismo contemporâneo: the United States of America. Em um dos textos da FA, Danielle Allen escreve: "...many of the founders [como dizem os americanos, os "founding fathers" da nação] understood the achievement of political liberty to require some meaningful degree of economic equality"; mais à frente, continua: "...equality and liberty were understood to reinforce each other...". Em resumo: algum nível de igualdade é preciso para criar dinâmicas virtuosas no capitalismo. Elementos desse raciocínio se fizeram presentes na colonização - não realizada por aristocratas, oligarcas e cortesões (como ocorreu em Pindorama), na criação do modelo socioeconômico da produção em massa, no New Deal, na emergência de uma sociedade de classe média após a 2a Guerra Mundial. Mas o quadro mudou.
Os Estados Unidos de hoje vê minguar a sua classe média e debate a desigualdade com afinco - aliás, tudo se debate nos EUA, à exaustão e de forma muito sofisticada. Por que o tema está em pauta? Porque um mercado de massas precisa de consumidores. Porque a coesão social depende de um certo nível de igualdade. Porque o aumento da desigualdade econômica pode significar o enfraquecimento do "sonho americano". Porque a desigualdade econômica pode significar uma crescente desigualdade de oportunidades e, quando isso ocorre, todos perdem - imagine quantos "Albert Einstens" e "Steve Jobs" nasceram no Brasil e não prosperaram por falta de oportunidade e não geraram uma riqueza que é tão necessária. Porque o modelo social americano dependeu de uma classe média forte.
Piketty mostra que a desigualdade aumentou nos EUA e que esse aumento esteve concentrado na ponta - os que ganham mais passaram a ganhar muito, muito mais. Outro dia desses encontrei no Facebook um gráfico interessante, que reflete um pouco o que aconteceu nos EUA: até 1980 o crescimento da produtividade era acompanhado de um crescimento mais ou menos proporcional dos salários. Em outras palavras, eficiência se traduzia diretamente em mais dinheiro no bolso de quem trabalha. A partir de 1980 deixou de ser assim.
Apesar dos pesares, e de toda a desigualdade, o fato é que, ao redor do mundo, hoje vivemos muito melhor do que antes, muito melhor do que em 1980 - nos EUA e ao redor do mundo. As pessoas vivem mais e com mais saúde, tem acesso a bens e serviços como nunca antes e cada vez menos gente vive na pobrezaPeter Diamandis costuma dizer e escrever que estamos migrando de um mundo "dos que tem e os que não tem" e para um mundo "dos que tem e os que tem muito" - ou seja, um mundo onde onde cada qual terá o mínimo necessário para poder trilhar seus próprios caminhos, desenvolver e realizar seu potencial. De fato, a tecnologia parece abrir essa possibilidade, mas a transição não será fácil, nem está garantida - dependerá dos sistemas humanos, das instituições, das políticas e das escolhas que fazemos e fizermos. 
Manter a coesão social é fator crítico para realizarmos essa transição sem catástrofes. Será um desafio ainda maior nestes tempos de 4a Revolução Industrial, migração em massa e outras transformações.
Desigualdade é tema mundial, com sotaques e cores diferentes em cada canto do planeta, com mais ou menos tecnologia. É questão de vida e, literalmente, de morte em muitos lugares ao sul do Equador. Infelizmente, nós dos trópicos ainda não experimentamos o que os do norte no geral já alcançaram. Vivemos em sociedades que a cada dia dão mostras do esgarçamento social em cada sinal de trânsito.
Analisando outro livro de PikettyPaul Krugman comenta no NYT sobre o risco dos EUA retornarem a um tipo de "capitalismo patrimonialista". Ah... que inveja! "Retornar", esse é o termo usado pelo professor de Princeton. Quem dera tivéssemos superado esse estágio na Terra de Macunaíma. Quem dera tivéssemos saído do capitalismo patrimonialista
Como sair? A resposta não é fácil e os caminhos tortuosos do Brasil não parecer auspiciosos no curto prazo. Como então reduzir a desigualdade? A mesma Foreign Affairs que inspirou este post destaca o breakthrough daquele que foi denominado pelo The New York Times "...likely the most important government anti-poverty program the world has ever seen...", o brasileiro Bolsa Família. Sob várias óticas e métricas, o programa é um sucesso - para ser claro: nem tudo são louros, precisamos mais e há áreas nas quais fizemos pouco progresso. O caminho será longo. Em um lugar que ainda carrega forte traços feudais como o Brasil, as barreiras da pobreza são inúmeras, nem sempre visíveis, nem sempre econômicas, muitas vezes sutis, talvez intransponíveis.
Um artigo recente na HBR aponta que níveis menores de desigualdades levam a mais felicidade. Eu entendo: todos queremos "pertencer", nenhum de nós quer ser "excluído" - do time, do grupo descolado e de 'gente bonita' na escola, da festa, de uma vida com oportunidades e bem estar. Quando desigualdade econômica se traduz em extratos sociais que não se reconhecem como iguais, menores são as possibilidades de mobilidade social e menor é o nível geral de felicidade.
Oxalá o sonho americano possa ser a realidade de mais gente ao sul - se frente à lei somos iguais, tomara que nas oportunidades sejamos menos desiguais. A partir daí, será com cada um correr para chegar na frente. 
Lembro de escutar lá no fim do Brasil, de onde vim: "isso é coisa de rico". Ah... e como é difícil vocês querer (pode?) coisa de rico quando você não é rico. Para o sonho americano ser o sonho de todos, precisaremos não só de novas estruturas, regras, programas... mas também de muito mais empatia. A boa notícia é que isso tem o potencial de deixar todos mais felizes.

domingo, 17 de janeiro de 2016

O dia a dia de todos nós


Quanto custa para girar a máquina que faz o dinheiro girar? Nos EUA, em média, cerca de 2% de cada transação com cartões de crédito. É menos do que em Pindorama, mas certamente rende muito dinheiro. Quer mais detalhes sobre taxas? Veja a tabela de taxas da Mastercard.
A indústria de meios de pagamento é uma das que será transformada pela tecnologia - já está sendo. Mais do que isso, o dinheiro será e está sendo transformado pela tecnologia. 
A Suécia tem a sociedade mais sem dinheiro do mundo, a que menos utiliza moeda em espécie e que também vê rarearem os cartões de crédito. Mas não só os países ricos experimentam essa mudança - o Kenya é um exemplo conhecido internacionalmente de adoção de uma 'moeda digital móvel' e tem o modelo lá desenvolvido sendo exportado para outros países na África e Ásia.
Pagando em dinheiro vivo, você efetua uma transação diretamente com fornecedor daquilo que você está comprando. Os meios de pagamentos eletrônicos baseados em cartões botam um monte de gente no circuito - bancos, empresas emissoras cartões, empresas que processam os pagamentos, fornecedores de seguro, empresas de telecomunicações, data centers etc. Com moedas digitais e novos modelos de sistemas de pagamentos, todo esse pessoal pode desaparecer. Eis aí a grande novidade: é possível fazer transações de forma direta, sem dinheiro vivo, sem intermediários, sem taxas, sem um sistema central de processamento. 
Redes móveis, novas estruturas de dados e algoritmos - como aquele que viabiliza o blockchain - estão por detrás dessa revolução. Essas mesmas tecnologias podem habilitar mudanças em várias outras indústrias e, acima de tudo, na vida pública. 
Imagine se as propriedades fossem todas registradas de forma digital, transacionadas no celular, sem cartórios... imagine se documentos não precisassem de autenticação e carimbos... imagine se você tivesse um único registro pessoal, que valesse para fins fiscais, de saúde, de trabalho, eleitorais, bancários e sei lá mais o quê! Aliás, por que existem tantas identidades? Por que cada um de nós é solicitado a levar cópias autenticadas de nossos documentos para órgão do governo - o mesmo governo que os emitiu?
O dia a dia de cada um de nós poderia ser muito mais simples do que é. Por que não é? Eu aposto os meus bitcoins que a restrição não está associada à tecnologia. 
Este relatório do Aspen Institute é um bom exemplo de um "diálogo que importa". Conversas desse tipo - e organizações que as promovem - fazem falta no Brasil. São peças importantes na construção das ideias que fazem as sociedades irem em frente, rumo ao futuro.