domingo, 21 de outubro de 2012

O caminho do meio


Quanta simplificação e quanta bobagem se escreve sobre economia no Brasil. Quanto lugar comum. Quanto desconhecimento da história. Quanto blá, blá, blá sobre os limites teóricos do crescimento e os cálculos dos especialistas (no que mesmo?) de plantão, os mercados livres e a sua auto-regulação, a importância de se manter os juros altos para minimizar o o risco da volta da inflanção e a necessidade do Estado ficar ausente das atividades produtivas.
Valham-me Schumpeter, Marx, Braudel, Nelson, Keynes!
Vale ler algo inteligente de vez em quando. Pena que raramente coisas desse tipo estão na mídia econômica que escreve e fala (pior ainda neste caso...) em Português....
Pois bem, esta edição deThe Economist (que como todos sabemos é liberal, mas certamente não mal informada ou dada a superficialidades e banalidades...) traz um bom debate sobre o papel do estado nas economias modernas (modernas?). A crise de 2008, 2009, 2010, 2011, 2012... (ufa... até quando?) evidenciou algo que já deveríamos saber, e que muita gente ainda não vê: existem vários caminhos para o desenvolvimento e o sucesso econômico de uma nação, mas nenhum desses é um caminho no qual o mercado resolve tudo!
Ah... a tal mão invisível... aquela danada! Entrou no bolso sem ser notada e bateu a carteira de muita gente por aí! Em especial gente que já era pobre!
Precisamos de regulação e livre iniciativa, investimento público e privado, empreendedorismo privado e público, geração de riqueza e sua distribuição, preços competitivos e bons salários, disposição para o risco e proteção contra o risco, governo e mercado (e muita, muita, sociedade civil)!
Foi assim na crise de 1930. Os EUA botaram a economia nos trilhos (literalmente...) com muito investimento público, com regulação dos mercados e com a criação de garantias para indivíduos, empresas e a sociedade. Há um belo livro de David Kennedy a respeito: Freedom from Fear - Kennedy ganhou o Pulitzer em 2000 por essa obra. Recomendor ler!
Países em estágios distintos de desenvolvimento requerem participações distintas do poder público. Cada país tem um arranjo político e social próprio e possui um ambiente institucional único - as regras do jogo não são as mesmas para todos. Os estoques de recursos naturais, competências e capitais diferem de país para país, e entre momentos históricos distintos de um mesmo país. Logo: não existe a solução única para o problema do desenvolvimento... é uma miragem acreditar que há 'the one best way'.
Mas temos pistas! Cada vez mais! Uma delas é que precisamos de uma atuação que combina estado e mercado. O caminho é o caminho do meio!
Como a capa da revista é sobre China comento: a China só é modelo para a China, mas serve para falsear algumas hipóteses liberais. Aliás, pensar em um esquema popperiano dedutivo seria uma boa para quem pensa que a Economia ensinada nos manuais de economia é ciência. Na verdade, não se pode separar economia de história, sociologia, política... sob pena de se cair, como de costume, em uma simplificação barata e ideias abstratas e sem sentido, descoladas da realidade.
Vale que todos reflitam. Especialmente quem estuda ou fala sobre economia!

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