sábado, 15 de dezembro de 2018

Bailamos na cauda

Um dos meus livros favoritos de negócios é "The Long Tale", escrito pelo então editor da Wired e hoje multi-empreendedor com negócios/projetos em robótica, drones etc., Chris Anderson. Não lembro bem como eu conheci a Wired, talvez tenha sido através do Flavio Pizzato, que hoje não faz drones, mas sim alguns dos melhores vinhos do Brasil. Lembro que, ainda na década de 1990, ambos líamos a revista em Porto Alegre - só gente exótica fazia isso. Mas este post não sobre Porto Alegre, a Wired, o Chris Anderson ou o Flavio Pizzato, é sobre como perdemos o rumo.
Em Porto Alegre, foi escrita, montada e encenada pela primeira vez uma peça de teatro que por lá ficou bastante conhecida: Bailei na Curva. A história acompanha a vida de um grupo de crianças/jovens ao longo do período da ditadura militar. A peça ficou famosa por lá no RS. Uma das canções também: Horizontes. Há quem diga que "virou um hino afetivo de Porto Alegre". Para além disso, "bailei na curva" tornou-se expressão corrente, sinônimo de perder o rumo, dar-se mal, se foder.
A internet permitiu que encurtássemos distâncias, expandíssemos os horizontes, conectássemos com gentes e lugares distantes. O argumento central do "The Long Tail", anteriormente desenvolvido em um artigo de 2004, é que a internet e as tecnologias digitais viabilizam a estratégia de ganhar dinheiro vendendo pequenas quantidades de uma variedade muito grande de itens. A digitalização e a presença online permite atingir mercados que antes não eram atendidos, demandas muito específicas, de quantidades limitadas. É possível conectar todas essas demandas e preferências específicas, localizadas, esporádicas em cada mercado e obter uma demanda global expressiva a ser atendida pelo fornecedor. Esse é o efeito da cauda longa.
A internet também permitiu que todos os malucos, raivosos, adeptos de teorias conspiratórias, pseudo-cientistas e falsos intelectuais se conectassem em grupos e grupelhos, muitos hoje com alcance mundial. É a cauda longa do radicalismo politico. 
Ao invés de contribuir para o aprimoramento do diálogo, a construção de consensos, a iluminação do debate público, a internet facilitou a gritaria, botou a razão para correr, esvaziou a praça pública, balançou a democracia. E disso que trata esta edição da MIT Tech ReviewEm outubro de 2018, no primeiro turno da eleição, fui votar com ela embaixo do braço. A fila foi longa, consegui ler várias páginas e pensar bastante.
Para além de conectar e amplificar as vozes radicais, a internet abriu uma porta para a manipulação da democracia, via fake news, campanhas bem estruturadas e com alvos precisos. Resumo: há atores e grupos que entenderam bem como hackear o processo democrático, enquanto outros apenas choramingam e ficam perplexos, presos a velhos modelos de mundo e diálogo. Estão errados. Permanecem no passado. 
Por enquanto, perdemos todos, ao norte e ao sul, ao leste e ao oeste, à direita e à esquerda, em cima e embaixo. Por hora, bailamos na cauda longa. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Limites e oportunidades

Andei pela primeira vez em um Tesla S em 2013. Depois, nunca mais fiz um passeio em um desses veículos. Concluo que tenho pouco amigos antenados e ricos. É limitado o meu círculo de amizades.
Estudei engenharia e até mesmo li sobre Georg Ohm durante um ataque de curiosidade pretérito. Contudo, para além da unidade que se utiliza no SI para medir a intensidade de um campo eletromagnético, confesso que pouco tinha me chamado a atenção o nome Nikola Tesla. Que falha! Será a minha curiosidade muito limitada? Por quê?
Quando você ler este post (se é que alguém lerá...) agradeça a Tesla e sua capacidade sem limites de criar. Sem ele, é possível que a disseminação da energia elétrica demorasse mais tempo - e, portanto, talvez tudo mais que se seguiu, inclusive a internet, tardasse a aparecer. É bem possível que este post somente seja possível hoje como resultado da vitória de Tesla e Westinghouse na "War of the Currents".
Tesla rompeu paradigmas, barreiras, fronteiras, limites. Viveu à frente do seu tempo. Assustou, escandalizou, iluminou e encantou. Até hoje - e talvez cada vez mais - continua a inspirar. Viveu em um tempo de capitalismo sem regras e grandes inventos. Fez tudo isso em uma terra longe de onde nasceu, para onde muitos foram atrás da sorte e de oportunidades. 
Tesla era um imigrante nos Estados Unidos da América. Rompeu as fronteiras do seu País e da Europa, ganhou o mundo e foi inventar sem parar do outro lado do Atlântico. Até hoje, muitos seguem esse caminho, inclusive o fundador da Tesla, IncOs EUA tem mais de 15% da sua população nascida no estrangeiro e os imigrantes são duas vezes mais propensos a empreender que os americanos natos. E essa continua sendo uma história (a outra, a do Nikola, vale conferir neste belo livro) de oportunidades e limites (e vice-versa) sobre a qual vale conhecer e pensar a respeito.

Xá comigo!

Este livro pode ser resumido em uma ideia: se você é um líder (ou quer ser um), você é "o responsável" em qualquer situação. Não dá para tirar a perninha na reta, nunca. Simples.

Quem se habilita? Vale pensar nas implicações, responsabilidades, dor de cabeça.