segunda-feira, 16 de maio de 2016

Não leram? Não gostam?

Fiquei muito curioso com esta edição da The Economist. Será que eles nunca ouviram falar de Ray Kurzweil e da lei dos retornos em aceleração? De forma acelerada: duvido!
Ao que tudo indica, há mais coisas entre o Intel 8080 e o Core i7 do que a minha vã filosofia linear pode supor. 

It's about data!

Muita gente escreve e fala muita coisa sem muito sentido. É muito, é demais, não consigo nem quantificar. Quando o assunto é comportamento então, os chutes e as ideais rasteiras grassam. 
Uma coisa que algumas vezes me chamou a atenção nas ciências sociais no Brasil é encontrar gente repetindo conceitos e fazendo afirmações que me parecem não ter lastro na realidade. Discursos prontos, ensaiados entre amigos. Palavras para iniciados. Ausência de pensamento crítico e diálogo fora do círculo fechado daqueles que leram as mesmas coisas e pensam como você. Muito dogma e poucos dados.
Tá certo... sou um engenheiro caído e meu modelo mental não deve escapar de uma viés positivista, ainda que velado. Não sou um cientista social, para o bem e o mal.
Uma outra coisa que sempre me chama a atenção é como as ciências sociais nos Estados Unidos são baseadas em métodos quantitativos e experimentação. É uma outra abordagem, que faz minha alma de engenheiro mais faceira - desculpe-me, mas não sei quantificar o quanto.
Originals é um livro bom de ler, feito a partir de inshights e conclusões baseadas ou inspiradas em pesquisas quantitativas. É sobre comportamento. É sobre padrões. É sobre dados.
Adam Grant é professor em Wharton e um grande comunicador. Não quer ler o livro? Tudo bem... assista o seu aclamado TED talk sobre os hábitos dos originais. É algo mais para aprendermos, engenheiros e cientistas sociais: comunicar, contar histórias, inspirar - nada de apresentações chatas em power point!

As rédeas do destino

A população africana irá dobrar nos próximos 40 anos. É muita gente. Será muita gente! Para um continente que tem quase 50% da população vivendo em extrema pobreza, os desafios são enormes.
Lembro-me da fome na Etiópia, quando eu ainda era adolescente. "We are the world, we are the children": bela canção, fez sucesso. O que mudou desde então? Tivemos boas e más notícias. Ups and downs
A África sofreu e sofre enormemente com a AIDS e outras doenças. A expectativa de vida no Continente caiu drasticamente desde meados da década de 80 mas começam a surgir resultados positivos.
Nos campo político e econômico a situação pouco evoluiu em muitos países, em outros andou para trás. Para Dambisa Moyo, não foi por falta de ajuda internacional que África ficou para trás. Foi principalmente, pelo excesso de ajuda. 
A ajuda internacional corresponde a cerca de 15% do PIB africano. 85% dos recursos fornecidos pelo Banco Mundial na África não são aplicados nas finalidades as quais se destinam. O problema é de governança, modelo de desenvolvimento, institucionalidade e, acima de tudo, mindset. Vale a discussão.
Todo processo emancipatório envolve algum tipo de empoderamento e tomada de consciência e responsabilidade pelo destino - de cada um de nós e também das sociedades e países. A síntese para o desenvolvimento não é a ajuda que cria dependência, mas a criação de estruturas locais capazes de gerar valor.
A mudança está em curso. Bob Geldof foi um dos principais organizadores das campanhas contra a fome na África nas décadas de 1980 e 1990, arrecadando milhões de dólares com shows musicais, discos, doações. Os concertos são coisas do passado e Geldof é o chairman de um fundo de private equity que investe na Etiópia. Sinais dos tempos. Bons e rentáveis sinais!

PS: antes que desavisados compatriotas passem por aqui e pensem coisas que não encontram base factual: o livro destaca o enorme sucesso de experiências de transferência condicional de renda, como brasileiro Bolsa Família. Tem dúvidas? Veja apenas um exemplo dos impactos na saúde.

Medo

Caminhava apressado em Schiphol há pouco mais de um mês e notava uma movimentação diferente, sentia um astral diferente. Nunca o aparato de segurança fora pra mim tão forte e aparente em um aeroporto europeu. Não faltam razões.
O medo é sistêmico. O medo cria barreiras e preconceitos, que fecham portas e as fronteiras, que fazem brotar o amargor e a desconfiança, que crescem com a falta de perspectivas e o fanatismo, que gera o ódio, que leva ao extremismo, que explode a razão e leva à cegueira, que põe a perder humanidade, que assim atenta à vida e esparrama cada vez mais medo.
Como é difícil aceitar o diferente, o outro. 
A Holanda é uma sociedade aberta, secular, diversa. É uma sociedade sobre a qual paira um espectro: será preciso fechar-se para proteger-se?
A mesma edição da Time Magazine Asia de 4 de abril deste ano que traz uma matéria sobre a ameaça do ISIS, inclui uma breve nota sobre Myanmar. Por lá, um grupo extremista budista (isso mesmo.. você leu certo: "um grupo extremista budista") promove o ódio a muçulmanos e realiza ataques. Não conhecia extremistas budistas? Welcome!
O medo é circular. Os refugiados da guerra na Síria buscam abrigo e a chance de uma nova vida na Europa. Mexem com o imaginário e com o bolso dos europeus. O medo cresce. As perspectivas são sombrias. Para os refugiados, a Europa, todos nós. O medo consome. O cerco se fecha. E não adianta apertar o passo.


Metamorfose

Como é difícil mudar! Somos todos presos a velhas ideias e velhos hábitos. Se não é mole na vida pessoal, imagine na vida corporativa e no mundo do beezeeness!
Schumpeter já dizia que a inovação é o motor do capitalismo, é a tal da destruição criativa. Novos produtos, processos, formas de organização etc. tornam obsoletos os antigos.
Quem não inova se trumbica, dizia o Chacrinha.... ou quase isso. Nunca isso foi tão verdadeiro. Vivemos um tempo de mudança acelerada. Quase 90% das empresas que constavam da Forbes 500 em 1955 desapareceram ou saíram da lista. Serão necessários bem menos que 60 anos para que isso aconteça com aquelas que hoje estão lá. A mudança se acelerou.
O impacto não se limitará as empresas. Cerca de 25% dos profissionais nos EUA tem cargos que não existiam há dez anos atrás. 48% dos empregos hoje existentes nos EUA tem alta probabilidade de desaparecer nos próximos 20 anos - veja uma pesquisa a respeito.
E daí? Para onde ir? Qual a direção da mudança? Como fazer para metamorfosear a sua organização?
Algumas das maiores empresas do mundo são quase virtuais (não possuem ativos e operam com ativos de propriedade de outros) - pensou no Über? Acertou! O software está engolindo o hardware. Cada vez mais gente passa a trabalhar sob demanda e não com tempo fixo. É o tempo das organizações exponenciais, dizem Salim Ismail e seus comparsas.
Este foi um dos livros de negócios mais divertidos a atrativos que já li, prendeu a minha atenção do início ao fim. Acho que vale a pena ficar exponencialmente ligado!