quarta-feira, 15 de abril de 2009

Recordar é viver!


Nestes tempos de 'crises' (financeira, econômica, de idéias e conceitos), vale ler este livro 2002, de Ha-Joon Chang, professor da Universidade de Cambridge.
Chang faz uma análise histórica do desenvolvimento econômico, comparando as trajetórias, políticas e instituições dos 'países desenvolvidos' com as dos 'países em desenvolvimento' e, especialmente, com as 'receitas de desenvolvimento' que os hoje 'desenvolvidos', a grande mídia e as instituições financeiras multilaterais (Banco Mundial, FMI etc.) ditam/apregoam.
As conclusões são muito claras: (i) os países desenvolvidos chegaram aonde chegaram com políticas e práticas econômicas muito distintas das que pregam hoje para a promoção do desenvolvimento dos 'em desenvolvimento', (ii) as políticas e práticas seguidas pelos 'desenvolvidos' estiveram marcadas pela intervenção estatal, protecionismo comercial, apoio dos governos às indútrias nacionais etc., não pelo livre mercado e a abertura comercial, e (iii) não existem evidências factuais capazes de sustentar a idéia de que os países em desenvolvimento se tornarão desenvolvidos se seguirem o que prega o mainstream da economia (liberal).
Do ponto de vista político, a conclusão mais importante de Chang é que a diferença entre o que hoje pregam os países desenvolvidos e as práticas que, no passado, levaram ao seu desenvolvimento é deliberada. Ou seja, o caso é do tipo: "faça o que eu digo, mas não faça o que eu fiz". Esse discurso seria intencional, para 'chutar a escada' e servir ao propósito de não deixar que os 'países em desenvolvimento' atinjam o grau de desenvolvimento e independência que têm os países do norte ('subam de andar').
Muito se pode debater as conclusões de Chang. As condições do mundo de hoje não são as mesmas dos séculos XVII, XIX e XX; por conseguinte, não valem as mesmas soluções. Não vale pensar que adotar hoje as soluções que os países desenvolvidos adotaram há centenas de anos seja a solução.
A grande lição, porém, diz respeito à forma como encaramos (países, cidadãos, formuladores de políticas, pesquisadores etc.) os processos de desenvolvimento. Não há o 'caminho único' e, muito menos, a adoção inconteste das práticas e políticas defendidas pelo mainstream (ainda há isso?) da Economia poderá levar o desenvolvimento. Bom senso, pensamento crítico, compreensão do contexto, capacidade de análise e projeto (formulação) e disciplina de execução são aspectos chaves para o desenvolvimento.
Mais do que liberdade econômica, precisamos de liberdade de pensamento e reflexão para que soluções ajustadas a cada contexto econômico e social possam ser engendradas e postas em práticas! Nada substitui a inteligência!

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